segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Memorial

Nasci em uma fazenda, onde passei a minha primeira infância, longe das tribulações da cidade, lugar pacato, tranquilo e maravilhoso. mas nem tudo dura para sempre, chegou co momento em que meus irmãos e eu deveríamos ingressar na escola. E assim mudei-me para a cidade. Cidade pequena, mas para mim era enorme pela simplicidade em que eu vivia na fazenda. Lugar este que tudo que precisávamos teria de ser comprado, enquanto no campo a gente mesmo produzia. Nesta cidade, havia apenas algumas mercearias, mas tinha um "mercadão" onde grande maioria da população frequentava. E nessas idas e vindas a este mercadão para compra de carnes e verduras, deparava-me com algumas pessoas "diferentes", assim consideradas por mim naquela época. Pessoas essas deficientes, uma física, outra mental, mas uma me chamava mais a atenção, porque era muito "diferente". Eu a chamarei aqui de Glorinha. Ela era baixinha, clara, cabelos lisos e rosto arredondado, olhinhos puxados e não conseguia falar corretamente. Não tinha noção nenhuma do porquê daquela menina ser daquele jeito. Muitas vezes, ela tentava se comunicar comigo, mas achava que era "doida" e eu até falava palavras que a hostilizava.
O tempo passou, mas nunca esqueci a Glorinha. Estudei, terminei o Ensino Médio, fiz faculdade, aí descobri o por que eu achava Glorinha diferente: ela tinha Síndrome de Down. Numa das minhas especializações, fiz um trabalho específico sobre a síndrome, quando adquiri conhecimentos sobre o que era a síndrome de Down. Passaram-se mais alguns anos. Casei-me, tive filhos e, por incrível que pareça, minha filha nasceu com essa síndrome. Hoje, sei quase tudo sobre o assunto, que a síndrome refere-se a um atraso no desenvolvimento motor e cognitivo, e que são crianças lindas, amáveis como todoas as outras. Ainda hoje, visito a Glorinha e entendo agora perfeitamente suas limitações e o quanto sofreu em toda a sua vida com pessoas que a hostilizavam várias vezes na rua, como eu mesma fiz por falta de conhecimento.
Atualmente, sou a favor da inclusão, pois é a única forma de fazermos igualdade para todos. Todos nós somos diferentes, pois se fôssemos iguais, não teria graça nenhuma.

Memória escrita por ULLA, pseudônimo de uma particpante do projeto.

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