quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Memórias da Extensão: entrecruzando passado e presente para fazermos um futuro diferente

Voltando à Infância
Ao retomar a minha infância, buscando recordações referentes a pessoas com deficiência que conviveram comigo, veio-me à memória a minha prima Marilda¹. Naquela época, eu devia ter uns sete anos e, de repente, tive a notícia de que minha prima estava muito doente e não havia diagnóstico certo. Ela tinha então oito anos.
Depois de semanas internada no hospital desta cidade (Paranaíba), ela foi levada para São José do Rio Preto, onde foi constato que estava com meningite.
A sua recuperação foi lenta e, como morávamos em sítios vizinhos, todos os dias eu a via. Não demorou muito para que, com nossa perspicácia infantil, percebêssemos que Marilda não se comportava da mesma forma que antes.
A princípio tínhmanos paciência com ela. Éramos muitas crianças, mas, com o passar do tempo, essa paciência foi se esgotabndo e a gente se recusava a brincar com ela. Às vezes, fazíamos até com que chorasse e fosse contar para nossas mães.
Hoje, lembro-me com tristeza que sequer passava pela nossa cabeça ter paciência com aquela criança que, por vezes, era muito "lenta" e outras vezes ficava nervosa e chorava sem motivo algum. Seus gestos eram sempre repetitivos e ela era muito "carente".
Não consigo me lembrar de sua vida escolar, mas acredito que, com a professora que tínhamos à época, na área rural, com salas multisseriadas, não houve avanço algum.
Só me lembro dela deixando a escola, pois não conseguia aprender e, a partir daí, automaticamente, ela era excluída de quase tudo, como de festas de nossa juventude, passeios etc...
Hoje, ao recordar de minha prima, penso que muita coisa teria sido diferente se houvesse menos preconceito quanto à sua pessoa. Agora, Marilda tem 47 anos, vive com seus pais, que têm uma grande preucupação com seu futuro.
Memória escrita pela acadêmica L. R. A. S. para o projeto de Extensão Vigotski e a Teoria Histórico-Cultural : subsídios teóricos e metodológicos para compreender a deficiência intelectual.
"De"
A cidade em que morava era muito pequena, no interior de São Paulo. Foi nessa cidade que passei a infância e a adolescência. Quando tinha meus 8 anos, convivi com uma pessoa com deficiência intelectual. Era o Delamar², mais conhecido como "De". Sempre que eu brincava em minha vizinha, ele estava lá. Às vezes, ele tinha diversas crises e, para mim, era muito triste deparar com cenas nas quais eu o via gritando muito alto seu próprio nome. Eu não sabia o porquê daqueles gritos e de sua maneira de agir.
Sua mãe era calma e ele sempre estava junto dela, quando ela passeava ou fazia caminhada. Ele estava sempre com sua mãe. Quando eu era mais nova, tinha muito contato com ele: conversava, cumprimentava-o, mas na adolescência eu não o via tão frequentemente. Era difícil o dia em que eu o encontrava, até que, em minha férias da faculdade, sem querer, deparei-me com ele. E- que engraçado!- ele se elembrou de mim, dizendo-me um"oi" e o meu nome...


Memória da acadêmica D. A.

¹,² Os nomes apontados são fictícios e o nome dos participantes foi preservado, colocando-se as iniciais ou pseudônimo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário